Novos tempos exigem novas palavras para descrever a realidade.
Escangalhamento acabou de nascer para descrever o que faz o Governo nas suas
propostas de revisão da legislação laboral, mais concretamente, da contratação
coletiva.
Os contratos coletivos entre associações de empregadores ou
empresas e sindicatos de trabalhadores têm vantagens para as duas partes. A
empresa negoceia um contrato único para todos os trabalhadores, deixando de ter
regimes diversos e variados para alguns. E os trabalhadores podem conseguir
obter melhores condições de trabalho, pois, ao agir em conjunto, têm mais força
negocial.
Pela sua natureza, este contrato coletivo deve ser periodicamente
revisto ou pode até acabar por iniciativa de uma das partes. Daí que o Código
do Trabalho tenha regras para o que acontece quando o contrato coletivo chega
ao fim ou quando, em novas negociações, não há acordo e há um impasse. A
solução é simples: o contrato coletivo continua a vigorar por mais ano e meio
e, se mesmo assim, não houver acordo, há lugar a arbitragem no Conselho
Económico e Social para decidir como fica o contrato coletivo. Durante todo
este processo os trabalhadores não perdem nem um cêntimo da sua remuneração. O
que faz todo o sentido. Esta solução é justa, sensata e permite que, ao longo
deste processo negocial, nenhuma das partes tenha mais força que a outra e
possa impor uma solução desequilibrada.
Impante como se quer, Mota Soares apresentou na semana passada uma
proposta mágica para escangalhar a contratação coletiva: se o contrato coletivo
terminasse, os trabalhadores perderiam automaticamente direito a todas as
parcelas da remuneração que não fossem remuneração-base. Ou seja, durante
qualquer processo negocial relativo a um contrato coletivo, as associações de
empregadores ou empresas passavam a poder impor as suas condições aos
trabalhadores. O processo negocial pretendido por Mota Soares não era um
processo negocial. Era um processo desigual. Pois os trabalhadores nunca
poderiam negociar em igualdade sabendo que, a partir de determinado momento,
passariam a ganhar menos.
Ontem e hoje, anunciou-se com pompa que o Governo cedeu e esta
proposta caiu. Não é verdade. Esta era uma proposta falsa para que o Governo
fingisse que tinha cedido. Perguntar qual é o preço da UGT para alinhar com
Passos, como pergunta António Costa, diretor do Diário Económico aqui,
não está certo. A pergunta devia ser: qual é o preço do Governo para fazer
propostas sérias?
Imagem de eNRIC VIVES-RUBIO retirada em http://www.publico.pt
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