Não é bem um Governo. Não é bem um conjunto de ministros. Não é bem para governar. É o segundo acto de uma peça em três actos.O primeiro acto foi o pedido a Passos para que formasse governo mesmo caindo logo a seguir. Era o único caminho, mas para ver teatro aí está o D. Maria II. Segue segundo acto: compor governo a dias, para escrever programa durante as tardes, das 2 às 5. E cá temos um pseudo governo com secretários de Estado promovidos e ministeriação de professores universitários, que podem regressar às universidades já amanhã. O terceiro acto é a queda no Parlamento, que se fará sem estrondo e com actores pouco convictos. Já se sabe que o poder tem os seus ritos e encenações. Neste caso, é uma encenação que serve a todos: Passos é o traído, a quem roubam a vitória, Costa, o lutador que ganha na arena parlamentar. A pergunta é só uma: porque é que em vez de uma comprida peça em três actos que dura semanas não se faz o mesmo com um espectáculo rápido sem intervalos para compromissos publicitários? Só tínhamos a ganhar.
Diário Económico de 29 de outubro de 2015
30 de outubro de 2015
28 de outubro de 2015
Os trabalhos de Costa
Costa parece ter o tal governo de esquerda novinho em folha. Falta só o resto. E o resto são muitos trabalhos, tantos quantos os de Hércules.
1. Formalizar o acordo de esquerda com assinaturas.
2. Assegurar que o acordo é detalhado e não mera lista de medidas para português ver.
3. Ter acordo duradouro.
4. Tratar que BE e PCP aceitem o Tratado Orçamental.
5. Garantir que os deputados do PS viabilizam o acordo.
6. Assumir que a redução da dívida pública é prioritária.
7. Rejeitar o programa do provável governo de Passos Coelho propondo alternativa clara.
8. Formar governo de elevada capacidade técnica e política.
9. Apresentar programa de governo no qual a maioria do eleitorado se reveja.
10. Ajustar o cenário macroeconómico do PS ao programa do governo.
11. Negociar o rumo com bancadas parlamentares do BE e do PCP sem perder o rumo.
12. Governar com estabilidade para que o futuro Presidente não se oponha.
É muita coisa e é difícil. Quase tanto como o último trabalho de Hércules: ir ao reino dos mortos e voltar.
Diário Económico de 22 de outubro de 2015
1. Formalizar o acordo de esquerda com assinaturas.
2. Assegurar que o acordo é detalhado e não mera lista de medidas para português ver.
3. Ter acordo duradouro.
4. Tratar que BE e PCP aceitem o Tratado Orçamental.
5. Garantir que os deputados do PS viabilizam o acordo.
6. Assumir que a redução da dívida pública é prioritária.
7. Rejeitar o programa do provável governo de Passos Coelho propondo alternativa clara.
8. Formar governo de elevada capacidade técnica e política.
9. Apresentar programa de governo no qual a maioria do eleitorado se reveja.
10. Ajustar o cenário macroeconómico do PS ao programa do governo.
11. Negociar o rumo com bancadas parlamentares do BE e do PCP sem perder o rumo.
12. Governar com estabilidade para que o futuro Presidente não se oponha.
É muita coisa e é difícil. Quase tanto como o último trabalho de Hércules: ir ao reino dos mortos e voltar.
Diário Económico de 22 de outubro de 2015
16 de outubro de 2015
O acelerador de partículas
Estava o país posto em sossego, quando Costa entendeu fazer de acelerador de partículas da política portuguesa. Estes equipamentos conseguem acelerar partículas a uma velocidade próxima da velocidade da luz e permitem conhecer as partes mais ínfimas da matéria. Costa não hesitou em propor que PCP e BE acelerassem o seu imobilismo para apurar as partes mais ínfimas das suas convicções. Assim se pode resolver um bloqueio estrutural: a impossibilidade de coligações à esquerda. Mais do que um governo, discute-se o epicentro do debate político. Daí tantas reacções destemperadas. A verdade é que no caso do tal governo de Esquerda existir, não parece que Costa vá ter oposição interna significativa ou cisões relevantes. No entanto, é conhecida a teoria dos aceleradores de partículas poderem criar pequenos buracos negros que engulam a matéria. E um governo de Esquerda que não assente num entendimento amplo e claro sobre matérias fundamentais pode muito bem ser o buraco negro que engole o PS.
Diário Económico de 14 de outubro de 2015
Diário Económico de 14 de outubro de 2015
5 de outubro de 2015
O assombroso défice
Apenas 43% dos portugueses adultos completaram o ensino secundário. Somos o pior país da União Europeia, descontando Malta. Na UE, a média é de 76%. O fosso é tão grande que só Portugal e Malta têm um número inferior a 50%. Não espanta que o desemprego atinja sobretudo os que não têm o ensino secundário. Este atraso não é novo: chegámos aos anos 70 com 25% de analfabetismo quando a Holanda tinha essa taxa no século XVIII e a Inglaterra no século XIX. Sabendo tudo isto, quem tanto fala em consensos tinha aqui uma oportunidade. Mas nada disso sucedeu: as Novas Oportunidades, o único programa abrangente de formação de adultos alguma vez lançado, foi desmantelado pelo Governo e nunca substituído. Uma das prioridades na educação é lutar contra este assombroso défice educacional. Deve ser feita uma avaliação séria do que foram as Novas Oportunidades e melhorar o que houver para melhorar. Não podemos é desistir de milhares de pessoas. Relançar a educação de adultos é relançar o país.
Diário Económico de 30 de setembro de 2015
Diário Económico de 30 de setembro de 2015
Faça o favor de sair
As eleições gregas do próximo domingo serão as quintas eleições legislativas gregas nos últimos seis anos. Tantas eleições só podiam andar a par com os programas de resgate gregos: três nos últimos cinco anos. Para Portugal, não deixa de ser surpreendente que, em plena campanha eleitoral, seja um assunto a passar despercebido. A razão é simples: Portugal não é nem nunca foi a Grécia. A história, a sociedade e a cultura são outras. Além disso, há uma tradição portuguesa de cooperação com a Europa (e não de afrontamento à moda de Tsipras) que acaba por ser seguida por todos os governos. É por isso que colagens do PS ao Syriza não funcionam. Numa análise europeia, segundo as sondagens, pode não haver uma maioria estável, colocando em risco o terceiro resgate e levando a novas eleições e a novas cimeiras europeias, e assim sucessivamente. O que leva sempre à mesma questão: saber se estes resgates-Sísifo não passam de um mal disfarçado convite à saída da Grécia do euro.
Diário Económico de 18 de setembro de 2015
Diário Económico de 18 de setembro de 2015
Labirinto
Até agora, Passos Coelho seguiu uma estratégia cuidadosamente preparada: não propor, não convencer, não aparecer e não falar.Propostas e contas nem pensar. Balanço dos últimos quatro anos era para esquecer. Ideias para os próximos quatro melhor esconder. E entrevistas e debates estariam foram de questão. No fundo, tratava-se de despolitizar as eleições dizendo que não haveria alternativa e que qualquer alteração de rumo, mínima que fosse, seria um desastre. Mais do que cativar votos, esta estratégia pretendia levar os indecisos a não votar, fazendo-os crer que não havia nada a mudar. Só que bastou tornar a haver debate político - julgar o que se fez, ponderar o que se vai fazer - para que ficasse claro que não é possível prender o país em 2011 e mandar a chave fora. Passos Coelho está outro: já vai dar entrevistas e começou a defender o seu legado. Parece é ir muito tarde para seduzir indecisos, que dificilmente irão compreender esta súbita mudança.se nenhuma, o Estado pagava turmas a colégios privados.
Diário Económico de 15 de setembro de 2015
Diário Económico de 15 de setembro de 2015
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